O vampirismo psíquico

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O vampirismo psíquico é arte de escravizar psiquicamente uma vítima, de forma a eliminar a sua vontade e assumir total controle sobre a sua vida. É conhecido também por chantagem emocional. LaVey explica que “Muitas pessoas que caminham sobre a terra praticam a arte requintada de fazer os outros se sentirem responsáveis e mesmo em dívida para com eles, sem causa.” Em linhas simples, o praticante desta arte atinge as emoções da vítima e nubla a sua mente, drenando a sua essência vital e forçando-a a fazer o que não quer. Opera sob as asas da necessidade, da moralidade, da religiosidade e da cobrança de gratidão, e suas vítimas mais comuns são as pessoas honestas e responsáveis, que possuem um senso de obrigação a cumprir. Atinge às pessoas cuja idéia de obrigação é maior do que o amor-próprio, a auto-estima e o auto-respeito.


Vejamos como se processa o assédio vampiresco. Em primeiro lugar, há uma exigência do vampiro, que pode ser feita diretamente, de forma insinuada ou via terceiros. Quando há uma resistência da vítima, o vampiro pressiona e ameaça até que a vítima ceda. Através da aquiescência da vítima, o vampiro sabe que terá sucesso numa nova empreitada, pois já conhece o seu ponto fraco. Aí começa o círculo vicioso e as presas fincam-se cada vez mais no pescoço do incauto.


Como sempre há uma ameaça velada e sutil por parte do vampiro, sugiro ao leitor que pense nas seguintes perguntas, quando você se recusa a fazer o que lhe é exigido:

· Alguém ameaça infernizar a sua vida?

· Alguém ameaça terminar o relacionamento?

· Alguém pune a si mesmo, entra em depressão ou adoece?

· Alguém sempre quer sempre impor a sua vontade?

· Alguém sempre ignora os seus sentimentos e necessidades?

· Alguém lhe oferece dinheiro ou presentes para comprá-lo?

· Alguém sempre lhe acusa de maldade e outras coisas semelhantes?


Se o leitor respondeu “sim” a apenas uma destas perguntas, afirmo que já é vítima de um vampiro. Este tipo de indivíduo é altamente nocivo à sua vida, nada lhe acrescenta e merece a sua total indiferença e repúdio. A melhor solução é sair imediatamente da sua presença, ignorando-o por completo, num total ostracismo. “Ser puramente satânico, a única maneira de negociar com o vampiro psíquico é o ‘jogo do silêncio’ e comportar-se como se eles fossem genuinamente altruístas e realmente não esperarem nada em retorno. Ensine-os a lição que eles graciosamente dão a você, agradecendo-os sonoramente por toda a atenção que lhe deu, e saindo fora!”[1]



Nem sempre isto é possível, pois na família e no trabalho também aparecem esses vermes. Neste caso, é melhor jogar fazendo-se de bobo e recusando “inocentemente” o pedido, por motivos de “força maior”; ou colocando-se de vítima, no lugar do vampiro (que é o que o vampiro gosta de fazer, passar-se por vítima), mostrando a todos que você será grandemente prejudicado pela pretensão deste ser infame; ou simplesmente aceitando fazer o que o vampiro quer, e depois se tornando o “eterno esquecido”; ou, por fim, aceitando o lado “altruístico” desse drácula solar e agradecendo os favores concedidos, mas negando-se a fazer o que o vampiro quer, afinal não era nada esperado em troca, não é verdade?


Lembre-se de que nem sempre o vampiro é uma pessoa. Muitos templos religiosos, organizações altruísticas e ordens iniciáticas vivem de vampirizar os seus membros. Mal a pessoa ingressa num deles, logo surgem uma miríade de obrigações que sobrecarrega a sua vida e nenhum proveito lhe traz em retorno. Quando a pessoa acorda e resolve sair, ligam para a sua casa, para o seu trabalho, entram em contacto pessoal com você, tentando forçar um retorno, que, a esta altura dos acontecimentos, você já está bem longe de querer.


Como muitas vezes o vampirismo é sutil, insidioso e difícil de ser percebido, há uma fórmula excelente para saber se você está sendo sugado ou não. É observar a contrapartida do seu préstimo. Simplesmente observe o que está recebendo em troca e como isto afeta a sua vida. Um exemplo: se você trabalha num cargo e o chefe sempre lhe acumula de obrigações, nas quais você perde os seus dias de folga ou momentos de lazer para poder cumpri-las, é um forte sintoma que está sendo vampirizado. Contudo, se tal chefe tolera eventuais atrasos ou falhas no serviço que você efetua, então não há porque você reclamar.


Ao contrário do que LaVey diz, os “pecados” do vampiro não são somente de omissão, mas de ação também. Muitos deles usam violência física para conseguir o que querem. O que ocorre é que, na maioria das vezes, agem pela forma indireta, caso contrário seriam prontamente “condenados”. Eles costumam ser mestres na insinuação e na dissimulação. Se há um amigo que lhe visita constantemente e o vampiro sente ciúmes da sua amizade, pode, por exemplo, comentar características “ruins” de um ator na televisão, que, por “coincidência”, são justamente as que se encaixam perfeitamente no seu amigo. Trata-se de uma tentativa sutil de romper o relacionamento entre ambos. Se não der resultado, pode apelar para a ameaça, a violência ou se fazer de doente para intimidá-lo.


Muitos vampiros são inválidos ou emocionalmente perturbados. Aproveitam a própria doença para exercer pressão sobre a vítima. P. tinha uma tia histérica e hipocondríaca. Quando P. recusava a ceder aos desejos da tia, esta sofria ataques histéricos e afundava-se em remédios. Dizia, entre outras coisas, que era portadora de diabete. Duas ou três vezes por semana, o médico ia até o apartamento em que P. e a tia moravam, para ministrar cuidados a mesma. Um dia, P. viu a tia comer compulsivamente, com uma colher, meia lata de Ovomaltine. Já desconfiando do processo manipulativo da tia, ele entrou no quarto, virou-se para o médico e lhe relatou o fato; este simplesmente ficou lívido, pois sabia que a paciente não tinha doença física alguma, e sim mental; estava sangrando o dinheiro dela, para favorecer o jogo infame e viu-se descoberto. Assim que terminou a consulta, a tia deu um dos maiores ataques histéricos já vistos por P. Então, P. simplesmente pediu desculpas, reconciliou-se com a tia e, quando esta dormiu, P. arrumou as suas malas e se mandou. Susan Forward, no seu Chantagem Emocional, explica que “A chantagem emocional ataca muito perto de casa. Os chantagistas emocionais sabem o valor que damos ao nosso relacionamento com eles. Conhecem nossos pontos vulneráveis. Geralmente conhecem nossos segredos mais profundos. E por mais que gostem de nós, quando temem não conseguir o que querem, usam esse conhecimento íntimo para armar a ameaça que dará a eles o que desejam: nossa aquiescência.” Além disso, “compaixão só acrescenta combustível à chantagem”.


Se a pessoa consegue livrar-se, finalmente, do vampiro psíquico, nota, de imediato, que a sua força vital retornou. Sente-se bem consigo mesmo e pergunta-se por que não tomou esta atitude há mais tempo.

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